6. SEM TROMPETAS
Resolvi vestir-me de branco da cabeça aos pés, algo que não é comum pois tenho um certo desacato com o facto de me ver todo de branco, e saí à rua. Tudo à minha volta pareceu-me diferente e é engraçado perceber a forma como a roupa se mistura connosco e invariavelmente com o mundo. Por um dia eu não me senti eu em todas as formas que o eu pode adquirir. Senti-me na ausência de algo, na ausência de toda a cor que me completa.
"No trumpets sound when the important decisions of our life are made. Destiny is made known silently."
Agnes de Mille
Isto não está nada fácil. Eu sou um homem de etapas, gosto de pensar no meu trabalho como uma sucessão de tarefas e quando estava prestes a terminar uma das tarefas para a minha colecção final fiquei doente. Estou com uma gripe de cão e muitas coisas estranhas têm acontecido. Desde uma campainha que toca frenética e quando chego à porta ela pára de tocar e não está lá ninguém. A um telemóvel a receber mensagem estranhas e no meio de tudo um coração mal resolvido e a entrar em stress. Devo estar a alucinar com a febre. Mas o bom de ter ficado doente é que me deleitei a ver a quarta temporada do project runway e digo-vos que é a melhor de todas.
RAMI
JILLIANE LEWIS
CHRISTIAN SIRIANO
"E quando as horas voltaram a ser o que eram, ela telefonou e disse: "Não nos devemos voltar a beijar. Não, não é não podemos. Não, também não é não quero. Eu não disse que não fizemos bem. Digo que não devemos, que nos faz mal." E eu disse que sim, que já era bastante ruim ter qualquer expectativa, qualquer uma. Que o que acontece está muito longe de tudo o que acontece. Pediu que repetisse e eu repeti já sem entender o que dizia, sabendo só que o tinha de dizer assim, que não sabia de outra maneira, já não sabendo quem ela era, nunca soubera. Estava confuso, que era como ela dizia gostar mais de mim, quando me abraçava mordendo-me os lábios."
in Saudades de Nova Iorque, Pedro Paixão
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