8. MEDOS SONHADOS

8.


"When I was younger, I could remember anything, whether it had happened or not."
Mark Twain

Ainda permaneço num estado indefinido onde o real se mistura com o sonhado. Talvez permaneça aí o resto da minha vida ou, com a idade, caia na realidade absoluta do mundo e esqueça que em tempos houve espaço para os sonhos. Nesse espaço perco-me, nesse espaço sou eu e quando “acordo” tenho medo. Medo de tudo o que me rodeia. Mas se esse medo me ajudar de alguma forma tenho de o enfrentar. Talvez ter medo ajude, talvez seja a falta dele que nos leve à loucura.

“O medo de amar é o medo de ser livre para o que der e vier. Livre para sempre estar onde o justo estiver. O medo de amar é o medo de ter de a todo momento escolher com acerto e precisão a melhor direção. O sol levantou mais cedo e quis em nossa casa fechada entrar p’rá ficar. O medo de amar é não arriscar esperando que façam por nós o que é nosso dever: recusar o poder. O sol levantou mais cedo e cegou o medo nos olhos de quem foi ver tanta luz.”

B. Guedes/F. Brant

Pela trigésima vez dei por mim deitado no sofá a ver o "Diabo Veste Prada" e no final lá tive que soltar as minhas lágrimas perdidas. As lágrimas que trazem recordações de uma cidade do outro lado do oceano. O que nós esperámos por este filme sair e logo fomos a correr para o cinema e sentar nas primeiras filas para assistir. Como com todos os bilhetes ainda o tenho guardado.


O filme teve vários efeitos em mim, não só por retratar um pouco o mundo que me começa a rodear mas pela fase da vida pela qual passei. Às vezes um simples ano pode mudar toda a nossa vida... e é por isso que, ainda hoje, continuo a não concordar com a cena antes da última (tenho de fazer uma pequena edição do filme aqui em casa). Mas há momentos da nossa vida em que temos de arriscar, temos de tomar decisões, e por vezes não são as decisões mais acertadas, mas são elas que nos fazem ser quem somos. Daí para a frente podemos escolher não ser mais o mesmo, mas foi o facto de o termos sido que nos levou a tomar essa nova decisão. O que fazemos e escolhemos (ou o que não fazemos e o que decidimos não escolher) faz de nós quem somos, mal ou bem, é isso que nos constrói, é isso que nos molda. E quando chegamos ao fim de uma etapa ganhamos algumas coisas e perdemos outras. E nesse final, quando recuperamos a sanidade, quando tudo poderia ser perfeito, já a vida mudou...

Existe em mim uma certa raiva em relação ao mundo. Must work on it.



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